Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) se tornou um tema amplamente discutido, principalmente devido ao seu crescimento em diferentes áreas da sociedade. A IA tem sido aplicada em tarefas que variam de simples, como escrever textos, a extremamente complexas, como auxiliar em cirurgias. Contudo, junto com esses avanços, criminosos também começaram a explorar as possibilidades dessa tecnologia, resultando em um aumento alarmante dos golpes com o uso de inteligência artificial.
Logo no início da sua popularização, a IA chamou a atenção de fraudadores, que passaram a utilizá-la como ferramenta para sofisticar seus golpes, deixando as vítimas ainda mais vulneráveis. Esses golpes, agora altamente elaborados, envolvem desde phishing (golpes de e-mails fraudulentos) até ligações telefônicas automatizadas que imitam a voz da vítima, uma prática que recebeu o nome de vishing. A seguir, discutiremos como esses golpes funcionam, quais são os principais tipos e como se proteger contra eles.
A Ascensão dos Golpes com Inteligência Artificial
Com a popularização da inteligência artificial, surgiram novas oportunidades para criminosos aperfeiçoarem suas táticas. Em vez de dependerem apenas de técnicas tradicionais, como fraudes bancárias convencionais, os golpistas agora utilizam IA para personalizar suas abordagens, criando interações que parecem reais. Uma das modalidades mais comuns é o phishing, em que os golpistas enviam e-mails que simulam ser de instituições bancárias legítimas, com o intuito de roubar informações confidenciais.
O grande diferencial dos golpes com o uso de inteligência artificial está na capacidade da tecnologia de aprender padrões de comportamento e linguagem, o que permite aos criminosos criarem interações cada vez mais sofisticadas. Eles conseguem, por exemplo, gerar e-mails que replicam perfeitamente a identidade visual de grandes bancos ou até mesmo gerar vozes em ligações telefônicas que imitam a de familiares das vítimas, induzindo-as a acreditar na veracidade da mensagem.
Como Funciona o Vishing: A Técnica que Usa IA para Fraudes
Entre as técnicas mais avançadas de golpes com o uso de inteligência artificial está o vishing, uma variação do phishing que envolve a utilização de voz para enganar as vítimas. Com o auxílio da IA, os golpistas podem simular com precisão a voz de uma pessoa conhecida, como um parente ou amigo, e usá-la em ligações telefônicas fraudulentas. Esse método é especialmente eficaz, pois a confiança da vítima é rapidamente conquistada ao reconhecer a voz de alguém de seu convívio.
O vishing é tão sofisticado que muitas vezes a vítima só percebe que se tratava de um golpe após a transação financeira ter sido concluída. Em um caso recente, relatado pelo portal UOL, uma mãe recebeu uma ligação em vídeo de uma pessoa que parecia ser sua filha, pedindo R$600,00 via Pix. Embora a aparência física e a voz fossem praticamente idênticas às da filha, pequenos detalhes, como a cor da camiseta, levaram a mãe a suspeitar. Esse exemplo ilustra bem como os golpes com o uso de inteligência artificial estão evoluindo para se tornarem mais convincentes.
Golpes de Vídeo com Inteligência Artificial: A Nova Fronteira do Crime Digital
Além do vishing, os criminosos também estão utilizando inteligência artificial para criar vídeos fraudulentos que imitam a aparência e a voz de pessoas reais. Essas fraudes se tornaram possíveis com o desenvolvimento de ferramentas conhecidas como deepfakes, que permitem a manipulação de imagens e sons de maneira extremamente realista.
Os golpes com o uso de inteligência artificial que envolvem deepfakes têm se tornado uma preocupação crescente, principalmente porque a tecnologia está acessível até mesmo para criminosos sem conhecimento técnico avançado. Com essas ferramentas, os fraudadores podem, por exemplo, criar vídeos de gerentes de banco ou funcionários de instituições financeiras solicitando que os clientes forneçam informações pessoais, como senhas ou números de cartão de crédito.
A sofisticação desses golpes está na sua capacidade de replicar com perfeição a voz e os movimentos faciais de uma pessoa, fazendo com que as vítimas acreditem estar falando com alguém de confiança. Esse tipo de golpe é especialmente perigoso porque, diferentemente de um e-mail suspeito, os vídeos fraudulentos parecem ser totalmente legítimos, induzindo a vítima a agir sem questionar.
A Jurisprudência em Fraudes com Uso de Inteligência Artificial e o Papel das Instituições Bancárias
A atuação negligente de instituições financeiras em casos de golpes com o uso de inteligência artificial tem gerado grande repercussão nos tribunais. Um exemplo relevante é a jurisprudência do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), em que uma consumidora foi vítima de fraude praticada por um estelionatário que se passou por seu filho, solicitando uma transferência financeira via WhatsApp. A fraude foi facilitada pela abertura de uma conta corrente no Banco Bradesco S.A., sem que a instituição seguisse as devidas cautelas e normas do Banco Central (Bacen).
No caso, a consumidora acionou o banco, solicitando a reparação dos danos sofridos, tanto materiais quanto morais. O tribunal reconheceu a responsabilidade objetiva do banco, uma vez que a instituição financeira não comprovou ter adotado medidas mitigadoras para prevenir fraudes e nem conferiu adequadamente os dados do estelionatário no momento da abertura da conta. A decisão também destacou a inércia do banco após a reclamação da vítima, demonstrando a falta de uma ação efetiva para impedir o golpe.
A ementa do acórdão afirma que, em tempos de crescente uso de tecnologia para práticas fraudulentas, não é possível sustentar a tese de culpa exclusiva da vítima em casos de fraudes bancárias. O nexo causal entre a fraude e a falha no processo de abertura de conta foi reconhecido, impondo a responsabilidade à instituição financeira. Entretanto, o pedido de dano moral foi negado, pois a consumidora não demonstrou que a fraude resultou em um impacto extraordinário em sua renda mensal ou ocasionou uma situação de privação significativa.
A decisão se baseou nos artigos 8º, 341 e 373, II, do Código de Processo Civil, e nos artigos 6º, VIII, e 14, caput, do Código de Defesa do Consumidor, além das Súmulas 297 e 479 do Superior Tribunal de Justiça e da Resolução nº 4.753/2019 do Conselho Monetário Nacional. Este caso ilustra como a negligência bancária em aplicar medidas de segurança adequadas pode resultar na responsabilização das instituições, quando o golpe com o uso de inteligência artificial está envolvido.
Como se Proteger dos Golpes com Uso de Inteligência Artificial
Diante do avanço dos golpes com o uso de inteligência artificial, é essencial que os consumidores estejam atentos e saibam como se proteger. A primeira medida de segurança é sempre verificar a autenticidade das comunicações recebidas, especialmente quando envolvem solicitações de dinheiro ou informações pessoais. No caso de ligações telefônicas, é aconselhável encerrar a chamada e ligar diretamente para a pessoa ou instituição mencionada, utilizando números oficiais.
Outra prática recomendada é nunca confiar completamente em vídeos ou mensagens de voz que solicitem transferências financeiras imediatas. Mesmo que pareçam vir de fontes confiáveis, pequenos detalhes, como a sincronização do áudio com o vídeo ou discrepâncias visuais, podem ser sinais de fraude. Além disso, é crucial utilizar sempre sistemas de autenticação em duas etapas em suas contas bancárias, para adicionar uma camada extra de proteção contra acessos não autorizados.
Por fim, manter-se atualizado sobre as técnicas mais recentes de golpes com o uso de inteligência artificial é uma das melhores formas de se proteger. Participar de treinamentos de segurança digital, acompanhar notícias sobre novas táticas de fraudes e compartilhar informações com familiares e amigos pode ajudar a reduzir os riscos de ser vítima de um desses golpes.
O Papel das Instituições Bancárias na Prevenção de Golpes com Inteligência Artificial
As instituições financeiras também desempenham um papel fundamental na proteção contra os golpes com o uso de inteligência artificial. Muitas delas estão investindo em tecnologias de segurança mais avançadas, como sistemas de detecção de fraudes baseados em IA, que monitoram transações em tempo real e alertam os clientes sobre atividades suspeitas.
No entanto, apesar dessas iniciativas, os criminosos continuam a encontrar brechas no sistema. Por isso, é importante que os bancos reforcem as campanhas de conscientização, alertando seus clientes sobre os novos tipos de golpes e oferecendo orientações claras sobre como agir em situações suspeitas. Além disso, a criação de mecanismos de fácil acesso para o bloqueio imediato de transações suspeitas pode ser uma medida eficaz para minimizar os prejuízos.
Conclusão
Os golpes com o uso de inteligência artificial representam uma ameaça real e crescente, tanto para indivíduos quanto para empresas. Com a sofisticação das técnicas de fraude, que agora incluem deepfakes e vishing, os criminosos estão conseguindo enganar até mesmo as vítimas mais cautelosas. É essencial que todos estejam informados e vigilantes, tomando medidas preventivas para evitar cair em golpes desse tipo.
Para além disso, as instituições financeiras têm a responsabilidade de educar seus clientes e investir em tecnologias que dificultem a ação dos fraudadores. Somente com a combinação de medidas de proteção pessoal e investimentos em segurança digital será possível enfrentar os desafios impostos pelos golpes com o uso de inteligência artificial e garantir que os consumidores estejam devidamente protegidos.