Mudança de Paradigma na Relação Médico-Paciente
A relação médico-paciente passou por uma verdadeira revolução nos últimos trinta anos. Isso ocorreu, sobretudo, com a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, em paralelo com o advento da internet.
A facilidade de acesso à abundância de informação lá contida, aliado ao fato de também ter se tornado consumidor aumentaram o grau de exigência dos pacientes. Dessa forma, os dias em que o médico era visto quase como um deus definitivamente ficaram para trás.
Assim, torna-se importante estabelecer quais os limites desse novo modelo de relação e as consequências que ele pode acarretar.
Como se Deu Essa Mudança
Dada a definição de consumidor e de fornecedor descritos nos arts. 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor, e com o devido amparo do Superior Tribunal de Justiça, não há mais como fugir do fato de que a relação médico-paciente também é de consumo.
Entretanto, a responsabilidade do médico é subjetiva, ou seja, ele só será responsabilizado pelo dano em casos de negligência, imprudência ou imperícia.
Uma vez que teve sua condição reconhecida legalmente, o consumidor passou a ser menos tolerante com os abusos dos fornecedores. Dessa maneira, ele procurou se informar mais sobre seus direitos, tendo encontrado na internet o lugar ideal para isso.
Era inevitável, portanto, que essa atitude se estendesse para algo tão importante quanto sua saúde.
Diante disso, o consumidor-paciente se tornou, bem informado, questionador, exigente e imediatista. Hoje em dia o paciente, sobretudo ao se descobrir doente, antes de procurar ajuda, procura se informar sobre todos os aspectos de sua doença e opções de tratamento.
O médico agora se vê tratando pacientes bem informados, questionadores, exigentes e imediatistas.
Relação Médico-Paciente Verticalizada
A relação médico-paciente ocorria de forma verticalizada. Dessa forma, a confiança no profissional também implicava em comportamentos autoritários por parte dele.
Assim, o paciente não tinha como manifestar sua opinião sobre o tratamento e dos procedimentos adotados pelo médico, cabendo apenas se sujeitar aos mesmos.
Hoje, diante das mudanças ocorridas, a relação médico-paciente passou a ser horizontal, de modo que o paciente passou a participar ativamente do tratamento acarretando a adoção de uma maior responsabilidade pela sua saúde.
Todavia, ainda que tenha ocorrido esse nivelamento, ele não se deu de forma igualitária. O médico detém o conhecimento técnico, o que não retirou do paciente a condição de hipossuficiência técnica e econômica.
As palavras que melhor definem como a relação médico-paciente deve se pautar são autonomia e confiança. O médico deve acatar as escolhas de seus pacientes quanto aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos.
Além disso, o profissional deve obter seu consentimento quanto ao tratamento a ser adotado, respeitando a sua vontade. Contudo, mesmo com todos com essas mudanças na dinâmica entre eles, é fundamental que ela se baseie em uma confiança mútua e recíproca.
Isso deve acontecer com o paciente se sentindo seguro com o tratamento prescrito pelo médico e ele, por sua vez sinta que o paciente vai seguir suas orientações.
Considerações Finais
Diante de tudo, é essencial tanto para o médico quanto para o paciente terem ciência de seus direitos e deveres. Só assim é possível que o relacionamento entre eles seja ético, equilibrado e respeitoso. Dessa maneira, se criará um ambiente saudável para que ambos atuem em conjunto para atingir a cura almejada.