Impossibilidade de Condicionar Reembolso de Plano de Saúde ao Prontuário Médico

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Índice

Reembolso de plano de saúde é um direito que visa garantir o ressarcimento de despesas médicas realizadas fora da rede credenciada ou em situações de emergência. No entanto, algumas operadoras têm condicionado esse reembolso à apresentação do prontuário médico completo, o que pode ser considerado uma prática abusiva e ilegal, além de violar o direito ao sigilo médico e à privacidade do paciente. Neste artigo, vamos explorar por que essa exigência é indevida e quais são os direitos do consumidor nesse contexto, com base no Código de Defesa do Consumidor (CDC) e outras normativas pertinentes.

1. O Direito ao Reembolso e a Proteção do Sigilo Médico

Os planos de saúde são contratados com o objetivo de garantir o acesso à saúde, proporcionando segurança e tranquilidade aos seus beneficiários. Parte desse contrato inclui a possibilidade de reembolso de plano de saúde de despesas médicas, especialmente quando o atendimento é realizado fora da rede credenciada ou em situações de emergência.

No entanto, algumas operadoras têm condicionado o reembolso de plano de saúde à apresentação do prontuário médico completo, alegando que precisam verificar se o tratamento foi realmente necessário ou adequado. Essa prática, além de questionável, esbarra em direitos fundamentais dos pacientes, como o direito à privacidade e ao sigilo médico.

2. A Exigência do Prontuário Médico: Uma Violação ao Direito do Consumidor

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) é claro ao estabelecer a proteção do consumidor contra práticas abusivas por parte dos fornecedores de serviços, incluindo as operadoras de planos de saúde. Condicionar o reembolso de plano de saúde ao fornecimento de documentos como o prontuário médico pode ser considerado uma prática abusiva e ilegal.

O artigo 39, inciso V do CDC, proíbe que o fornecedor de produtos ou serviços, como as operadoras de planos de saúde, exija do consumidor vantagem manifestamente excessiva. Exigir o prontuário médico completo, um documento que contém informações sensíveis e confidenciais sobre o paciente, pode ser considerado uma vantagem excessiva, uma vez que viola o direito à privacidade e ao sigilo médico.

Além disso, o artigo 6º, inciso III do CDC assegura ao consumidor o direito à informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. A operadora de saúde tem o dever de informar claramente quais documentos são realmente necessários para o reembolso de plano de saúde, sem que isso implique em uma invasão à privacidade do paciente.

3. Sigilo Médico: Um Direito Inviolável

O sigilo médico é um direito fundamental assegurado tanto pela legislação brasileira quanto pelo Código de Ética Médica. O médico, ao realizar um atendimento, deve manter sigilo absoluto sobre as informações do paciente, exceto em casos onde há previsão legal para a quebra desse sigilo, como em situações de risco iminente à vida de terceiros ou por determinação judicial.

A exigência do prontuário médico completo por parte das operadoras de planos de saúde para efetuar reembolsos é uma violação direta desse direito. O prontuário médico contém informações detalhadas sobre o estado de saúde do paciente, diagnósticos, tratamentos e até mesmo questões pessoais que foram compartilhadas com o médico durante o atendimento. Fornecer esse documento à operadora pode expor o paciente a situações de constrangimento ou até mesmo discriminação.

O Código de Ética Médica, em seu artigo 73, proíbe o médico de revelar informações confidenciais obtidas em função da prática profissional, exceto nos casos em que o paciente autoriza de forma expressa ou quando há justa causa, dever legal ou autorização judicial. Isso reforça a impossibilidade de a operadora de plano de saúde exigir o prontuário médico como condição para o reembolso de plano de saúde, já que essa exigência viola a privacidade do paciente e o compromisso ético do médico.

4. O Direito ao Reembolso de Plano de Saúde e os Documentos Necessários

A legislação não impede que as operadoras de planos de saúde solicitem documentos que comprovem a realização do procedimento e sua necessidade para fins de reembolso de plano de saúde. No entanto, esses documentos devem ser limitados àqueles que realmente comprovem a despesa, como notas fiscais, recibos e um relatório ou laudo médico resumido que descreva o procedimento realizado.

Conforme mencionado no artigo 12 da Resolução Normativa 259/2011 da ANS, a operadora pode exigir documentos que comprovem a despesa e a prestação do serviço, mas sem expor o paciente a uma situação de invasão de privacidade. Exigir um laudo ou relatório médico que indique o procedimento realizado e a justificativa clínica é permitido, desde que não inclua detalhes irrelevantes que possam violar o sigilo médico.

Além disso, o artigo 18 da Resolução Normativa 387/2015 da ANS estabelece que o reembolso de plano de saúde deve ser realizado com base nos valores estabelecidos no contrato e que a operadora não pode criar obstáculos desproporcionais para o reembolso, como a exigência de documentos que não sejam estritamente necessários para a comprovação das despesas.

5. Como Proceder se o Reembolso de Plano de Saúde for Negado

Se você, como usuário, tiver o reembolso de plano de saúde negado sob a alegação de que é necessário fornecer o prontuário médico completo, existem medidas que podem ser tomadas para garantir seus direitos:

a) Reclamação junto à Operadora de Plano de Saúde

O primeiro passo é registrar uma reclamação formal junto à operadora, questionando a exigência do prontuário médico e solicitando o reembolso de plano de saúde com base nos documentos que você está disposto a fornecer, como notas fiscais, recibos e um laudo médico que respeite o sigilo.

b) Reclamação na ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar)

Caso a operadora insista na exigência ilegal, você pode registrar uma reclamação na ANS. A ANS é o órgão regulador das operadoras de planos de saúde no Brasil e tem o dever de garantir que os direitos dos consumidores sejam respeitados e o reembolso de plano de saúde possa ser feito.

c) Acionar o Procon

Outra opção é buscar apoio do Procon da sua cidade. O Procon pode mediar a situação e, se necessário, aplicar sanções à operadora por práticas abusivas.

d) Ação Judicial

Se todas as tentativas administrativas falharem, você pode entrar com uma ação judicial. Neste caso, é recomendável contar com o apoio de um advogado especializado em direito do consumidor e em saúde suplementar. A ação pode incluir um pedido de indenização por danos morais, especialmente se a exigência do prontuário médico causou constrangimento ou outras consequências negativas.

6. A Importância de Conhecer Seus Direitos

Muitos consumidores não têm pleno conhecimento dos seus direitos e acabam cedendo às exigências abusivas das operadoras de planos de saúde. Por isso, é fundamental estar bem informado e saber que o sigilo médico é um direito inviolável, e que a exigência do prontuário médico completo como condição para o reembolso de plano de saúde é ilegal.

Os profissionais de saúde também têm um papel crucial nesse processo. Médicos e outros profissionais devem estar cientes das normas éticas e legais que regem o sigilo médico e orientarem seus pacientes a não fornecerem informações que possam violar sua privacidade.

7. Faça Valer Seus Direitos

A prática de condicionar o reembolso de pano de saúde à apresentação do prontuário médico é uma violação dos direitos do consumidor e do sigilo médico. As operadoras de planos de saúde não podem exigir documentos que exponham detalhes sensíveis sobre a saúde do paciente, e essa prática deve ser combatida com base na legislação vigente.

Se você enfrentou essa situação ou conhece alguém que esteja passando por isso, é importante buscar orientação jurídica e exigir que seus direitos sejam respeitados. A legislação brasileira é clara ao proteger o consumidor contra práticas abusivas, e você não deve abrir mão do seu direito à privacidade e ao sigilo médico.

Em caso de dúvidas ou se precisar de ajuda para lidar com essa situação, não hesite em procurar um advogado especializado em ações contra planos de saúde. Garantir que seus direitos sejam respeitados é fundamental para que você possa receber o atendimento de saúde adequado e sem constrangimentos.

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