Prontuário Médico: Prova Essencial na Defesa

Médico analisa prontuário médico com atenção, reforçando sua importância como prova em defesa ética e judicial.

Índice

Na prática clínica, é comum o médico se preocupar com o diagnóstico, o tratamento e o bem-estar do paciente — como deve ser. No entanto, um detalhe muitas vezes negligenciado pode se tornar a principal ferramenta de proteção da sua carreira: o prontuário médico.

Mais do que um registro clínico, o prontuário é um documento legal, técnico e ético. Ele serve como prova da conduta do médico diante de sindicâncias nos Conselhos de Medicina, processos judiciais e até demandas do próprio paciente.

Neste artigo, vamos mostrar:

  • Por que o prontuário médico é decisivo na sua defesa;
  • O que deve constar nele segundo o CFM;
  • Como sua ausência pode comprometer sua imagem profissional;
  • Boas práticas para evitar responsabilização.

✅ O que é o prontuário médico?

Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), o prontuário médico é o conjunto de documentos que registra a assistência prestada ao paciente. Deve conter:

  • Anamnese e exame físico;
  • Diagnósticos;
  • Solicitação de exames;
  • Condutas e tratamentos realizados;
  • Evolução clínica;
  • Termos de consentimento;
  • Comunicação de riscos e recusa de tratamento.

Ou seja: o prontuário médico é a memória oficial da relação médico-paciente. Ele deve ser claro, cronológico e completo.

📘 O que dizem os códigos de ética?

O Código de Ética Médica (Resolução CFM nº 2.217/2018) e o Código de Processo Ético-Profissional exigem o correto preenchimento e guarda do prontuário.

Segundo o Art. 87 do Código de Ética Médica, é vedado ao médico:

“Deixar de elaborar prontuário legível para cada paciente.”

Já o Art. 88 complementa:

“É vedado deixar de fornecer, quando solicitado, cópia do prontuário ao paciente, salvo em situações previstas em lei.”

Essas normas demonstram que o prontuário médico é um dever ético, não apenas uma formalidade administrativa.

⚖️ O prontuário como prova em sindicâncias e processos

Nos processos éticos, o prontuário médico é a primeira prova solicitada pelo Conselho. É a partir dele que se avalia:

  • A existência ou não de erro médico;
  • Se houve comunicação adequada com o paciente;
  • Se o consentimento foi registrado;
  • Se os procedimentos adotados seguiram protocolos.

Um prontuário mal preenchido — ou inexistente — dificulta a defesa profissional e pode ser interpretado como descaso, mesmo que o médico tenha agido corretamente.

Nos tribunais, a situação é semelhante: juízes e peritos confiam no prontuário como base técnica para suas decisões.

❌ O que pode acontecer se o prontuário for falho?

Casos comuns de responsabilização:

  • Médico não registra os riscos explicados verbalmente;
  • Não há termo de consentimento informado assinado;
  • O prontuário não tem evolução do caso;
  • O prontuário está incompleto ou ilegível;
  • O paciente nega ter sido informado sobre o diagnóstico ou o tratamento — e não há como provar o contrário.

Nessas situações, com a falta de registros no prontuário médico, o médico fica sem base documental para demonstrar sua conduta. Isso pode levar à responsabilização por erro médico, mesmo quando não houve imperícia.

🖥️ Prontuário eletrônico: aliado da segurança

Com o avanço tecnológico, o prontuário eletrônico se tornou uma solução prática e segura para a rotina médica. Ele facilita:

  • Registro imediato e completo;
  • Acesso remoto e rápido;
  • Segurança da informação;
  • Geração automática de termos e formulários.

Segundo o CFM, o uso do prontuário eletrônico é permitido desde que siga as normas de segurança da informação (Resolução CFM nº 1.821/2007).

É uma forma de otimizar o tempo e reduzir falhas de registro.

🧠 Comunicação: o que precisa estar no prontuário

Não basta anotar exames e condutas. O prontuário deve refletir a comunicação com o paciente, como:

  • Explicação dos riscos do procedimento;
  • Recusa de tratamento pelo paciente;
  • Orientações dadas em consultas;
  • Mudanças de conduta e justificativas.

Se o paciente afirma que “não foi informado” e o prontuário está mudo, a palavra dele pode prevalecer.

🔍 Exemplos práticos de como o prontuário protege

  1. Recusa de internação: paciente se nega a ser internado, e o médico registra a recusa por escrito, com assinatura. Em eventual agravamento, o médico estará resguardado.
  2. Resultado estético insatisfatório: paciente faz cirurgia plástica e diz que o resultado não foi o prometido. Se o prontuário tiver fotos, explicações dos riscos e termo de consentimento, o médico estará protegido.
  3. Tratamento de risco: paciente é informado sobre as possibilidades e escolhe o tratamento mais conservador. Se documentado, o médico comprova que respeitou a autonomia do paciente.

🧾 Como preencher o prontuário corretamente?

  • Use linguagem clara e objetiva;
  • Evite abreviações ambíguas;
  • Faça registro em tempo real, se possível;
  • Inclua data, hora e identificação do profissional;
  • Guarde cópias de exames e laudos relevantes;
  • Digitalize e proteja os dados (caso eletrônico).

E nunca altere um prontuário depois do fato ocorrido — isso é infração ética e pode agravar a situação.

✅ Dica prática: checklist do prontuário ideal

  • Dados completos do paciente;
  • Histórico e anamnese detalhados;
  • Conduta e justificativa médica;
  • Riscos explicados e anotados;
  • Consentimento formal registrado;
  • Evolução clínica documentada;
  • Registro de dúvidas e orientações;
  • Recusas anotadas e assinadas.

📣 Conclusão

Em um cenário de crescente judicialização da medicina, o prontuário médico é a principal ferramenta de defesa do profissional.

Mais que um registro clínico, ele é um instrumento de segurança, ética e confiança. Preenchê-lo corretamente é respeitar o paciente — e proteger sua carreira.

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